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SurfPortugal # 169, Fevereiro 2007
Sedução Aquática
O olhar divergente de Paulo Nicolau
Posto de maneira simples: a revolução digital está para a fotografia de surf como o tow-in está para o surf de ondas grandes. Tal como este último revelou uma data de "big riders" que nunca o foram (e nem o seriam) antes de aparecerem as motas de água, também a fotografia digital abriu as portas para dezenas de "fotógrafos" com a mesma sensibilidade de um cobrador de impostos numa exposição de arte abstracta. Não é o caso de Paulo Nicolau, ou Nico, como prefere ser chamado. Este longboarder lisboeta de 35 anos começou a fotografar (e continua a fazê-lo, diga-se de passagem) por mera brincadeira, mas desde o início acusou uma sensibilidade muito própria. Se a sua técnica não é a mais apurada, se os conhecimentos que revela sobre fotografia estão longe de ser profundos, se o equipamento que utiliza é de algum modo limitado, Nico possui aquilo que falta a tanta gente que preenche todos os requisitos acima enunciados: a originalidade do olhar, a capacidade de ler pormenores, a atenção para além do óbvio. AS suas imagens não são fotos de surf convencionais (embora também goste de as fazer, para deleite pessoal). A luz que procura, os momentos que capta e os sítios para onde aponta as suas lentes põem-no numa categoria de fotografia à parte daquela que se estipulou chamar “de surf”. O seu trabalho denota, acima de tudo, uma pureza de intenções quase infantil na sua inocência, a fotografia como forma de revelação de uma nova realidade que a natureza fugidia das imagens em movimento não permite absorver, encontrando nas ondas e nos elementos que rodeiam o mar algo mais do que a sua evidência estética. Cada um dos seus “detalhes praisagísticos”, como lhes chama, contêm em si todo o universo que nos encanta, hipnotiza, seduz, e que, ultimamente, nos obriga a regressar continuamente a esse lugar de todas as contemplações que é o oceano.
Ao contrário do célebre credo índio, a fotografia de Paulo Nicolau não aprisiona a alma daquilo que é fotografado. Pelo contrário, liberta a de quem para elas olha.
Agradecimento eterno ao grande amigo Ricardo Miguel
( para ver o seu trabalho:
pois sem a brincadeira com a maquina fotográfica dele
provavelmente nenhuma destas fotos existia ...